sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Osnofa humoriza "Pra Mim"


Acabei de chegar de São Roque. Sítio do Edsinho Tomaz, apenas 70 km de Sampa, casinha incrustada entre pequenas elevações montanhosas e verdes, lugar bucólico.
Lá, ponto do Encontro dos Leoninos, acontecimento já previsto no calendário cultural da turma do MPA, hoje foi pré-lançamento do cd "Pra Mim", do visceral  dinossauro Zé Afonso. Já passado dos 60, Osnofa - como é conhecido e traduzido -  é membro do Movimento Popular de Arte de S. Miguel, aprofundando em seus versos um humor ríspido e líquido, ricamente temperado pela "branquinha", que torna-o carismática e emblematicamente um esteta de si. Dá-se, assim, ao direito de compor versos puramente líricos dentro de uma imagem vibrátil e equilibrada em improvisos que, longe da ideia de jazz, são mais intervenções  intuitivas de um artista diferenciado, pouco dado a concertorias "fechadas".
Aqueles que acompanham sua carreira vão encontrar no (ótimo) disco suas músicas mais emblemáticas, como H-melanciou, Zé Neguinho, Pré-Doência e Caximbo (parceria com Edvaldo Santana, e já gravada por Arnaldo Antunes no disco Saiba, de 2004), entre outras. Todas compõem um repertório variado e divertido, de ironia cristalina, mas coeso e muito bem produzido, que fica ainda mais à mostra pela vibração traquina mas sutil de seu violão, viril porém igualmente delicado aos ouvidos mais atentos.
O trabalho, que teve produção do Akira e do Edsinho, com o apoio cultural do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Social e Humano (IPEDESH),  faz parte do Projeto Memória Musical já em sua terceira edição. As primeiras foram os discos Tião, de Raberuan; e Sacha 60, de Sacha Arcanjo. O Memória Musical é um projeto que procura registrar, documentar e legar para o futuro os trabalhos dos mais emblemáticos artistas da região de São Miguel, que fizeram parte de um efevescente caldeirão cultural e que corriam o risco de caírem no esquecimento coletivo, não fosse a empreitada quixotesca dos envolvidos, Akira Yamasaki, Raberuan e Cleston Teixeira.
A festa foi tanquila e inusitada, sob o lume de uma fogueira de troncos velhos,  o cheiro de iguarias sendo cozidas no fogão a lenha, violões e percussão sendo trocados (e tocados) de mão em mão, todos cantando animados, saciados, humorados. O Cleston e o Raberuan liberaram suas vozes, pegaram nos violões  e,  imantados pela felicidade contagiante do Zé,  desfilaram um rosário de sucessos, acompanhados pela turba festiva, o Edsinho à frente, também cantando seu amor à vida  amável de seus confrades ali presentes. 
O que fiz? Como não sei tocar bulhufas, liguei a câmera e eternizei o momento em imagens.E agora tô aqui, fofocando a respeito, que é das poucas coisas que sei fazer - porcamente - bem.

Escobar Franelas.

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